domingo, 22 de dezembro de 2013

Erro X Acerto



No sinal uma mulher circense fazia malabarismo. Primeiro com três claves e depois acrescentava uma bola. E depois subia em um monociclo. Um show de habilidades costumeiro de sinais de trânsito, onde alguns dariam uns trocados e outros não.

Porém essa mulher, apesar de claramente dominar as técnicas, naquele sinal fechado de oito e vinte da noite de sábado não conseguiu fazer o seu número. A bola que ela tentava acrescentar caiu em todas as suas tentativas. Um pouco chateada ela tentava de novo e de novo, subia no monociclo, às vezes conseguia ficar um tempo e às vezes caía logo. Com um pouco de vergonha do fiasco do número ela riu pra si mesma e procurou a cumplicidade dos motoristas com um  “foi mal, não tô conseguindo...”
Eu assistia a cena do banco de trás de um taxi. Ao ver as tentativas frustradas da malabarista, fiquei com vontade de dar algum dinheiro para incentivar, mas demorei demais para abrir a carteira. Antes disso, o motorista do taxi rapidamente pegou uma nota de 5 reais e deu a ela dizendo “Não desiste não!” O outro carro do lado também deu alguma coisa.

Estou contando isso porque acho que eu, o motorista do taxi e o cara do lado tivemos o mesmo sentimento. Um sentimento que seria diferente se ela tivesse feito um número perfeito.  Porque o erro, a tentativa frustrada são coisas tão próprias do humano que a identificação é inevitável. É como se vendo a mulher fracassando, todos nós nos víssemos ali, nos nossos próprios erros, constrangimentos, nas expectativas frustradas e nos confortássemos em saber que não somos os únicos. O dinheiro é quase um “tamo junto nessa”, o erro a trouxe  para perto de nós. Porque as experiências de se apresentar no sinal ou fazer malabarismos pouca gente dentro dos carros teve, mas tentar e não conseguir é coisa de todo dia, de todo mundo.  O acerto do outro provoca admiração (ou inveja) e  o erro compaixão, simpatia.

A fragilidade dela ficou ali exposta para nós, que de imediato só pensamos em dar colo, em fazer ela se sentir melhor, porque talvez seja tudo o que queremos para nós também. Me fez pensar que a tentativa tenha tanto valor quanto o acerto. A tentativa é sempre bem vista, ao contrário da conformação. Sem falar que a tentativa/erro é o caminho natural do acerto.  Uma tentativa mesmo que frustrada vale e vale muito. Não sei quanto ela ganha a cada sinal vermelho, mas que aquele me pareceu mais lucrativo, pareceu.

 Isso ou o motorista daria o dinheiro e eu tentaria pegar o dinheiro e o cara do lado daria o dinheiro se ela tivesse feito tudo certinho. Não sei.

Ou ela já sacou que a tentativa frustrada toca mais o nosso coração que o espetáculo e erra de propósito...

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Pequenas maldades

Uma vez, viajando de avião, sentei na  poltrona da janela e vim assim meio dormindo, meio acordada e toda vez que eu abria um pouquinho a persiana da janela para iluminar alguma coisa, o rapaz que estava sentado ao meu lado vinha para cima de mim quase encostando o nariz na minha bochecha de tanta curiosidade para ver o que tinha lá fora. Achei uma atitude meio inconveniente, invasiva, ainda mais porque não tinha nada para ver. Eram só nuvens céu... Não estávamos nem decolando nem pousando... Com o amigo que estava no corredor ele começou a conversar. Vi que falava espanhol, tinha cara de ser chileno. E se fosse a primeira vez que ele estivesse viajando de avião? Ver as nuvens do alto tem a sua beleza e talvez o céu brasileiro fosse diferente do céu chileno. Talvez eu também tivesse curiosidade de ver o céu chileno. Sugeri que trocássemos de lugar, o que ele, animado, aceitou prontamente. E até o fim do vôo não desgrudou a cara do vidro. Eu fiquei ali espremida no meio. Mas eu fiquei feliz, fiz uma boa ação.

Bom eu poderia ter feito isso, mas me deu preguiça. Virei pro lado e fingi dormir.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

É o meu jeito...



A Fani tá no paredão do Big Brother.  Apareceu no intervalo. Ela apela para que o público a deixe ficar na casa. “Eu sempre fui eu mesma, sempre fui verdadeira.”
Por sinal é um clichê do Big Brother. Só perde para “vou votar nele porque eu tenho menos afinidade” e “tem que votar em alguém...”
Questiono esse argumento não no Big Brother, porque eu estou cagando se a Fani vai sair ou não, mas porque a gente usa esse argumento para a gente mesmo, para os outros... E vamos combinar que é um argumento cheio de falhas. No Big Brother principalmente.
E se ser você mesmo não for o melhor que você pode fazer?
Quer dizer que se eu for eu mesma posso fazer tudo que compete a minha personalidade e aí tudo bem porque afinal de contas a autenticidade está mantida?
É ser muito arrogante ou ignorante achar que todas as atitudes uma vez fazendo parte do seu temperamento são legítimas.
“Ah, mas eu sou assim...”
Ame ou deixe? É isso?
Acho que tem coisas que são próprias de cada um e é lindo que cada um seja de um jeito. Mas tem coisas que é inteligente que a gente mude sim.  Ou que pelo menos flerte com o diferente. Afinal a gente tá no jogo para evoluir não é isso?
Se você é cabeça dura, experimente seguir a opinião contrária a sua e ver no que vai dar. Se você é desorganizado, experimente guardar na gaveta. Se você fala tudo o que pensa, sem filtro, experimente se colocar no lugar do outro e ficar quieto um instante.  
Acho que às vezes a gente superestima o “ser verdadeiro”, “o jeito de ser”. E se eu pensar antes de agir? Antes de falar? Programar? Vou perder a espontaneidade?
Exemplo besta:
Eu esqueço muito data de aniversário.  Hoje em dia tá um pouco melhor por causa do facebook, mas ainda sim é um problema.
Sempre ligava no dia seguinte. “Parabéns atrasado!”
Atendia uma amiga um pouco chateada, mas tudo bem afinal eu sou assim. Esquecida, descompromissada e uma vez comprovado isso, eu era desculpada de todos os esquecimentos, afinal eu sou assim. E aí eu deitava e rolava na minha carta branca de qualquer compromisso, afinal eu sou assim, e não há nada a fazer, me aturem assim!
Mentira! Mudar é chato e dá trabalho, porque exige atenção e pede atitude, mas eu posso mudar da água pro vinho e isso ser legítimo e verdadeiro.   O comportamento não precisa seguir uma lógica, ser coerente. Se a gente quiser, todo dia dá para brincar de fazer diferente.
Parece simples, mas anotar os aniversários foi uma atitude de mudança.
O mais difícil mesmo é saber de você.
No Big Brother , entra um bocado de gente dizendo que vira bicho se alguém pisa no seu calo. Chega lá dentro, vira um cordeirinho.  Cada um pinta a si mesmo como bem entende.  E a gente acredita que realmente é do jeito que a gente pinta.
 Nós temos uma visão totalmente deturpada de nós mesmos e os outros tem uma visão totalmente deturpada da gente.
Não sei quem possui a verdade, alguém em algum lugar deve possuir...
De repente essa pessoa é a Fani, vai saber!

terça-feira, 7 de agosto de 2012

A velha, o rapaz e o mendigo


Li uma vez em algum lugar que “quem escreve só pode escrever sobre aquilo que viveu”. Concordei na hora.

Sei que o autor desconhecido falava metaforicamente, de sentimentos, vivencias. Não necessariamente de acontecimentos práticos.  Mas eu gosto mesmo é de acontecimentos reais e falar sobre eles.  Porque inventar historia é legal, mas é bem mais fácil e prazeroso contar uma história que você viveu.

Digo isso porque hoje eu acordei querendo escrever, mas sobre o que?

Gosto dos acontecimentos do acaso. Mas nos últimos dias não ouvi nenhuma fofoca da vizinha, não tive preocupação de trabalho, não conheci figuras interessantes na rua, não descobri nenhuma doença e nem filosofei sobre nada muito relevante.

Hoje acordei querendo escrever, mas sobre o que?

Fui em Ipanema resolver umas coisas e no meu caminho tentei entrar em contato com alguma coisa extraordinária que pudesse cruzar a minha rota. Prestei atenção em conversas, fiz cara de disponível para velhinhas que quisessem compartilhar suas aflições, fui de ônibus para ficar observando as coisas pela janela,  reparei nas vitrines, nas promoções. Comprei umas blusas e livros em um sebo. Sentei em uma lanchonete, e enquanto comia um pastel e um suco, reparei nas pessoas. Todas indo ou voltando de algum lugar, todas muito normais. As pessoas mais legais que vi no dia foram uma velha que falava sozinha e um cara do casseta e planeta.  Carregava comigo 3 sacolas.

Escrever sobre o que?

[Uma menina subiu em um ônibus e se atrapalhou para passar na roleta, trazia uma bolsa grande, e 3 sacolas de compras. Não sabia se passava primeiro com as sacolas, o próprio corpo, ou se pagava a passagem. Sentou do meu lado e ficou me olhando com uma cara sem graça, pediu desculpas pela quantidade de sacolas que ocupavam o chão entre o nosso assento e o da frente. Quase não tinha onde colocar os meus pés. Achei despeito já que o assento era preferencial. Mas acordei de bom humor e não ia bater boca com garota nenhuma.
Feito uma retardada ficou olhando pela janela como se nem soubesse para onde estava indo nem qual o ponto ia parar. Acabamos descendo no mesmo ponto. Eu ia pegar minha aposentadoria no banco e fazer o mercado.
-Arroz, feijão, frango, farinha, leite, ovo, queijo, açúcar... – Repito em voz alta o que preciso comprar para treinar a memória. Não anoto nada.]

Sobre o que?

[Devagar ela anda no meio da rua com uma bolsa grande e 3 sacolas de compras. Tô doido para chegar logo em casa. A calçada é estreita e ninguém mais pode passar, achei que quem fazia isso era velho, mas a menina com a cabeça nas nuvens não reparou que uma fila de gente mal humorada atrás dela tinha mais o que fazer. 
Parou para olhar uma vitrine. Logo todo mundo que estava atrás dela passou ligeiro inclusive eu. Tenho raiva de quem fica prendendo o transito de pessoas da rua. Gente tinha que vir com buzina.]

Escrever sobre o que?

[Estou com fome, estou aqui sentado e ninguém olha para baixo, ninguém joga uma moeda. Uma menina come pastel com suco. Prefiro nem ficar olhando para a fome não aumentar, um cara que anda rápido na rua tropeça em mim e pede desculpas. Uma mulher passa falando de arroz, feijão e frango. Hoje não é o meu dia...Ih, o cara do casseta e planeta!]


Nada me aconteceu, ninguém foi suficientemente interessante para mim hoje.

Mas vou escrever mesmo assim.

Sei lá, vamos supor então que alguém tenha reparado em mim. Só supor. 



terça-feira, 24 de abril de 2012

Questão de opinião (ou não)

Diálogos. Eu e meu namorado. Ele começa:

- O que que você vai querer?
 - Quer dividir alguma coisa? Escolhe aí!
 - Quer carne, frango, petisco, batata frita?
 - Qualquer coisa, pede aí que eu como!
 - Eu quero bife a parmegiana, pode ser?
 - AI... Bife à parmegiana...Não pode ser outra coisa não?
 - O que, fala aí alguma coisa!
 - Tá, pode ser bife à parmegiana! Eu como...

 .

 - Você acredita em vida após a morte?
 - Não sei, ninguém nunca voltou para contar...
 - Mas você acredita?
 - Não...
 - Não?
 - Não, acho que acabou, acabou...
 - ...
 - Se bem que tem as mensagem dos espíritos, tem os milagres dos santos ... Ah, não sei! Respeito todas as fés.
 - Mas em que que VOCÊ acredita?
 - Hum...Acredito em energia...
 .

Sempre fui meio em cima do muro, não gosto de ficar mal com ninguém, acho sempre que qualquer opinião sem relativizar um pouco vai atingir alguém. Gosto mais de ver o que os outros acham do que ser a primeira a dar minha opinião.
 Isso é um defeito sem dúvida. Só existe e é respeitado quem se posiciona.
 Mas será que eu preciso ter uma opinião formado sobre tudo!? Tem coisas que tenho conhecimento de causa e posso bater no peito, mas outras eu só desconfio. Tenho twitter, escrevo pouquíssimo. No facebook, também não sou a que mais posta pensamentos, até o próprio blog demoro a atualizar.... E na enxurrada de atualizações, de tantas opiniões, às vezes me sinto quieta demais. Ao mesmo tempo em que acho meio chato quem tem uma opinião pronta sobre tudo...
 É como se eu esperasse um amadurecimento de vivência que me trouxesse de bandeja todas as certezas e argumentos que me pedem.
 Mas se a vida é um eterno aprendizado, já dizia Narcisa, quando vou ter as certezas de que preciso para mostrar o que penso? Na vida eterna? E se ela não vier?
 Por isso, ultimamente tenho me forçado a dar mais a minha opinião, mesmo que seja equivocada, mesmo que eu mude depois, que alguém me convença do contrário, mesmo que ninguém queira saber. Sei lá, exponho aqui a dúvida na falta de uma certeza para dar, afinal são tantas possibilidades que limitar qualquer coisa me parece burrice. Sei dizer o que é físico, emocional, mas o porquê e como, não pergunte.
 Eu simplesmente não sei. Ou sei. Ou...

 - De sobremesa uma torta búlgara!
 - Petit gatô, não?
 - Torta búlgara tem creme de leite, é uma delícia. Você vai amar!

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Cicatrizes

Quando eu tinha uns 18 anos estava passando férias na Irlanda e tomando umas bebidinhas estranhas em um Pub, acabei conhecendo um grupo de masoquistas que se apresentavam no país em uma espécie de circo dos horrores. O barman, que provavelmente já os conhecia há algum tempo, dado a maneira íntima com que se tratavam, pediu uma pequena demonstração de habilidades para agradar a turista, no caso eu. Erin era um cara de uns vinte e poucos anos que se prontificou a realizar o pequeno show. Pediu ao barman uma faca e enfiou, sem exprimir qualquer dor, na bochecha esquerda. Fiquei fascinada com a habilidade de não sentir dor da criatura. Ele me falou que era algo ligado a respiração e a meditação. Quis aprender a técnica e logo virei estrela do grupo com meu incrível número de ser alçada por ganchos enfiados na minha pele acima do busto. Era um masoquismo para a plateia que agoniada esperava até quando eu aguentaria. Cerca de 5 minutos, tempo bastante para que eu fosse aplaudida no final. E essa é a história das minhas 4 cicatrizes, 2 em cada lado do meu colo.

Bom, é mentira, claro. Acabei de inventar. Tenho essas cicatrizes por causa dos cateteres que eu tive que por.

É que eu acho que cicatriz sempre traz uma aventura envolvida, uma aposta que não deu certo, é quase uma prova de que a pessoa viveu intensamente. Sempre fico curiosa ao descobrir uma cicatriz na pele de alguém.

Ter cicatrizes nas pernas mostra o quão moleque você foi, quantas quedas tomou, quantas mordidas de cachorro, picadas de mosquito, tombos de bicicleta e traquinagens você foi capaz de fazer.

Quando é na barriga ou nas costas acho sempre que é coisa de acidente ou operação. Dá um certo constrangimento perguntar. Mas se a pessoa tá ali bem, uma cicatriz de um trauma também pode ser uma grande história.
Outro dia conversando com meu namorado falávamos dessa cicatriz embaixo do queixo que muita gente tem. Porque criança que é criança já abriu o queixo alguma vez na vida.

Eu nunca abri meu queixo e me senti meio mal por isso. Nem de tombo de bicicleta. Eu não tinha sítio, casa de praia, nem família no interior, portanto minha infância foi em apartamento e playground. Entendia mais de lego e Playmobil que de bichos e frutas colhidas do pé. Mas ok também, a quantidade de porradas que eu dei com a canela na mesinha de centro compensam.

Talvez as histórias vividas tenham tanto potencial de histórias fantásticas quanto as fantásticas...

Bom, isso para vocês, meros mortais que não sabem a emoção e dor de estar pendurada por ganchos de ferro para uma plateia de mil pessoas. Ah! Mil não. Cem mil!


Aí esta a foto sem photoshop denunciando as marcas da minha aventura fantástica...

sábado, 20 de agosto de 2011

TODO MUNDO TEM PROBLEMAS SEXUAIS

Venho aqui divulgar o espetáculo "Todo mundo tem problemas sexuais" que voltará para Salvador depois de 4 anos de jejum! Por isso não percam esta comédia divertidíssima, sucesso absoluto de público!ESpero meus amigos baianos por lá!!Bjos!!



quinta-feira, 14 de julho de 2011

Fala que eu te escuto!

Nunca tinha ido a uma psicóloga. Não que eu não precise de uma, mas nunca pensei em gastar dinheiro com isso, afinal eu tinha amigos e poderia muito bem conversar com eles sobre as minhas crises.

Na clínica em que eu estou tratando a leucemia, eles oferecem, como parte do tratamento, consultas com uma psicóloga na própria clínica. Bom, já que fazia parte do pacote eu fui.

(Aviso - Não pretendo escrever aqui nada que desmereça a profissão do psicólogo, afinal só tive 3 sessões, muito pouco tempo para dar qualquer opinião, só usei a experiência como ponto de partida para uma reflexão. E eu particularmente estou simpatizando muito com a minha psicóloga.)

Mas como é engraçada uma sessão de terapia! No final das contas a outra pessoa está ali basicamente para te ouvir e ir guiando o seu raciocínio. Às vezes o foco do problema você mesmo encontra, sem precisar que o profissional te mostre o caminho. Você está ali basicamente para falar e a outra pessoa para te ouvir.

Posso estar falando uma besteira, mas me dá a sensação que essa profissão só existe porque as pessoas comuns não te escutam. E todo mundo só quer ser escutado por alguém, mas ninguém quer escutar.

Quando você simpatiza com alguém na vida, normalmente é porque a pessoa simplesmente te escutou, se interessou realmente pelo que você dizia.

Quantas vezes já não aconteceu de você estar conversando com alguém e a pessoa só procurar pausas na sua fala para mostrar a sua própria experiência no assunto?

A pessoa pergunta, mas não quer ouvir a resposta.

-Como foi que você se interessou pelo teatro?

- Eu era muito tímida quando era menor e por influência de uma amiga acabei entrando no teatro e assim que...

O outro corta o papo na mesma hora que enxerga qualquer possibilidade de coisa em comum. As pessoas caçam coisas em comum no discurso das outras! Principalmente quando estão se conhecendo.

-Ah! Eu também era muito tímido quando era menor!! Não conseguia falar nada, nossa! Quando eu ia para escola, minha mãe me deixava com a professora, como era o nome del... Tia Flávia! E aí eu entrava na sala com a tia Flávia e blá blá blá...

Tipo, foda-se como eu entrei no teatro né?

E quando a pessoa para se mostrar interessada, quer forçar uma proximidade com o assunto?

- Você faz o que?

- Sou atriz.

-Serio?? Nossa, eu sempre quis ser ator, mas sabe como é a vida né? Precisa ganhar dinheiro! Acabei fazendo engenharia mecatrônica... Mas eu sempre participava das peças da escola e eu nunca bla, bla, bla...

Mulher também tem mania de sempre comparar as experiências amorosas, sendo que só uma está com um problema.

“O Ricardo fazia muito isso.” “Eu nunca ia deixar o Marcinho fazer isso, nunca!” “Eu já passei por isso! Quando eu ficava com o fulaninho de tal e mais bla bla bla...”

E o mais irritante é quando o outro quer superar a sua experiência.

“É que eu tive leucemia e ..”

“Minha tia teve um câncer no fígado que passou para a cabeça, ficou em coma por 7 anos e voltou a vida! Vai dar tudo certo para você!”

Porra! Quer saber ou não quer saber?

E a gente já está tão condicionado que teme qualquer pausa maior. Na vida quando você dá uma pausa normalmente a outra já se encaixa naquela pequena respiração e desata a falar.

Na psicóloga, eu estava falando muito e fiz uma pausa para pensar no que falaria em seguida.

Silêncio. Ninguém fala. Os 15 segundos mais longos do mundo. Só uma profissional mesmo poderia ficar tanto tempo em silêncio.

A verdade é que somos todos carentes de atenção. Queremos ser interessantes, admirados, queremos contar como somos vividos, como sabemos das coisas e que mais importante do que conhecer o outro é que o outro te conheça.

Blog é bom né? Dá para falar a vontade sem que ninguém te interrompa.

Pronto acabei. Agora podem falar vocês. Eu juro que vou ouvir.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Álvaro

Se eu dissesse que ele é extrovertido estaria mentindo. Mas é daquele tipo que se mostra quando ganha intimidade. Eu posso dizer com segurança que Álvaro se afeiçoou a mim mais do que gostaria. Digo isso porque nossa separação era inevitável e ele não queria sofrer mais uma vez (ele nunca chegou a me dizer isso, mas eu percebo as coisas). Não sei se eu era irresistível demais, ou ele que era muito carente. Mas, de um jeito ou de outro, acabamos nos envolvendo...

Nossa história começou como qualquer outra história de amor. Um lado interessado e outro nem tanto. O nem tanto era ele. Conhecemo-nos em seu ambiente de trabalho. Fui obrigada a solicitar seus serviços e ficar a ele ligada 24 horas por dias durante 30 dias corridos. Tempo suficiente para nos tornarmos inesquecíveis um para o outro.

Pensei que seria muito constrangedor estar ligada a alguém que eu não conhecia e que testemunharia todos os meus hábitos diários, desde os mais agradáveis aos mais escatológicos. Resolvi que iria quebrar o gelo e conhecer um pouco mais aquela criatura que zelaria pelo meu corpo:

- Imagino que deve ser chato ficar ao lado de gente desconhecida o tempo todo NE?
Ele não pronunciou palavra mas, se ouvi bem ,foi algo parecido com um:

- Hum.

Tentei mais uma vez.

- A parte boa deve ser ver gente pelada o tempo todo. Deve ser divertido...

Acho que ele me achou espirituosa demais e de novo não respondeu. Fiquei constrangida com a falta de reação e resolvi ficar quieta.

Alguns dias se passaram sem que nos comunicássemos. Apesar de ficar ao meu lado de pé o tempo todo, Álvaro tinha que ser carregado para os lugares. Em um dia bom, eu quis conhecer a varanda que dá para o mato. E como não podíamos nos separar o levei comigo. Ficamos lá a tarde toda. Até que ele enfim resolveu interagir:

- Obrigado por ter me trazido aqui. Faz tempo que eu não vinha. Para quem fica tanto tempo em lugar fechado, ver o sol, o verde e respirar um pouco desse ar...Desculpe se não me apresentei antes, Álvaro.

- Prazer Álvaro. Mônica. Quer dizer, acho que o meu nome você já deve conhecer...

- É, as enfermeiras te chamam bastante...

A partir daí conversamos sobre vários assuntos.

Quer dizer, váarios, vários também não. Alguns assuntos, aqueles que eram comuns a mim e a ele. Coisas do universo do hospital. Qual a enfermeira preferida, coisas de doença, de chatices, ele me contou das paqueras de bastidor, quem eram os doentes preferidos...

Perguntei se ele nunca sentia sono. Afinal trabalhava dia e noite sem parar. A resposta me deixou sem graça:

- Normalmente sim, mas ao seu lado nem tanto. Você fica linda dormindo.

- Mesmo sem cabelo? – Respondi no ímpeto de querer dizer alguma coisa.

- Fique sabendo que para mim, ter cabelo é que é estranho. A maioria das pessoas com quem trabalho também não os tem.

Achei a resposta fofa e não consegui dizer mais nada a não ser um “obrigada” sem jeito.
A cada dia que passava a situação para mim ficava mais difícil, mas me confortava saber que ele estava ali do meu lado sempre. Já não tinha mais vergonha da sua presença. DE vez em quando ele até mandava um comentariozinho mais ousado para ver como eu reagia (principalmente no banho):

- Se você quiser ajuda para esfregar as costas...

No início eu exigia respeito, mas depois...

- Ai.. Não alcanço minhas costas com a escova. Meu lado direito dói...

Tenho que dizer que apesar de muito magro Álvaro tinha uma virilidade no esfregar de costas... Será que era uma prática recorrente? Essa intimidade com os pacientes? Não fui a diante com esses pensamentos. Quis me sentir especial para ele.

Álvaro também tinha seus dias de mau humor, principalmente ao me ouvir reclamar sem parar do meu estado. Talvez ele se sentisse um pouco responsável por isso. Não sei...

Um dia o médico adentra meu quarto com a notícia que eu iria embora no dia seguinte.
Fiquei numa felicidade só. Álvaro sorriu também, mas com menos entusiasmo.

-Al, vou embora!!Graças a Deus!!

- Que coisa boa NE?

E enquanto eu me preparava para ir embora, Álvaro permaneceu quieto, apenas cumprindo sua função de me dar os remédios e o soro.

Antes de sermos desconectados um do outro, ele disse baixinho:

- É divertido sim.

- O Que?

- Ver as pessoas peladas...

Não pude deixar de esboçar um sorriso.

Fui desligada de Álvaro e o vi sendo levado do meu quarto como se fosse um objeto qualquer. Me doeu o coração deixá-lo sozinho.

Fui ao corredor e vi que ele estava sendo levado para outro quarto e estava para ser ligado a uma Raquel que tinha acabado de chegar.

Senti uma mistura de alívio e ciúme, pelo menos ele teria companhia... Mas quem era aquela desconhecida que ficaria agora com o meu Álvaro?

A Raquel já entrou fazendo alguma piadinha sobre ele que lhe arrancou um sorriso!Mas como assim?! Ele cedeu logo no primeiro dia, enquanto comigo foram dias de convivência para alguma reação amigável. Muito injusto! Pelo menos eu voltaria para o mundo e ele ficaria preso para sempre!

Pode ser que ele fosse o irresistível e eu a carente. E talvez ele tenha sido muito mais inesquecível para mim do que eu para ele.

Mas fazer o que NE? Cada um tem o “Wilson” que merece...


Este é Álvaro em um dia de frio.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

O grão de areia

Minha experiência com a leucemia

“Ostra feliz não faz pérola”. A ostra, para fazer uma pérola, precisa ter dentro de si um grão de areia que a faça sofrer. Sofrendo, a ostra diz para si mesma: “Preciso envolver essa areia pontuda que me machuca com uma esfera lisa que lhe tire as pontas...” Ostras felizes não fazem pérolas... Pessoas felizes não sentem a necessidade de criar. O ato criador, seja na ciência ou na arte, surge sempre de uma dor. Não é preciso que seja uma dor doída... Por vezes a dor aparece como aquela coceira que tem o nome de curiosidade. Este livro está cheio de areias pontudas que me machucaram. Para me livrar da dor, escrevi.

Tirei esse texto da contra-capa do livro de Rubem Alves , “Ostra feliz não faz pérola”, um livro que eu adoro e essa metáfora da ostra com a pérola sempre me intrigou.
Desde que li o livro pela primeira vez me questionei sobre esse grão de areia que seria a motivação original de qualquer grande idéia ou realização artística. Será que eu tinha algum grão de areia dentro de mim que tivesse força suficiente para me fazer criar? Para mim, alguém que se diz artista, isso era uma questão. Minhas curiosidades e incômodos nunca passaram da esfera cotidiana e nunca me incomodaram ao ponto de me fazer sair do meu comodismo.
De certa maneira eu desejei ter algum grande acontecimento na minha vida que me fizesse sair da minha estabilidade, dos lugares já conhecidos, alguma coisa que pudesse me fazer criar.

A notícia

Eis que me é atribuída uma doença. Grave. Uma leucemia.
Mas eu só queria um grão de areia, não um pedregulho!
Leucemia, aquela doença da novela, que cai o cabelo, que tem risco de vida, que precisa de doador compatível... Senti uma fisgada no peito e a garganta fechar. Chorei.
As coisas pareciam não fazer sentido e eu ainda não tinha engolido aquele diagnóstico. Ontem eu estava no carnaval de cílios postiços pulando de bloco em bloco, dormindo pouco, tomando todas e sem sentir nenhum mal estar. Como eu poderia estar com uma doença grave dessas?
As manchas roxas, que pareciam hematomas, denunciaram a doença. Comecei a achar estranho o fato de estar toda roxa e não me lembrar de ter batido em tantos lugares. “Ê cachaça hein?”, foi o que mais ouvi a respeito das manchas. Mas não, eu sabia que alguma coisa estava estranha. Joguei no Google: “manchas roxas” e descobri que era um sintoma de diversas doenças. Tomei um susto e no dia seguinte marquei médico. O exame de sangue saiu e estava péssimo, tudo muito abaixo do normal. Pelos olhos do médico eu já percebi que tinha alguma coisa muito ruim acontecendo. No mesmo dia ele pediu o exame da medula. E eis que o resultado veio. A pedrada.

A semana

Para saber o tipo precisávamos esperar uma semana. O tipo determinaria o risco, a gravidade da doença.Foi Uma semana de extrema angústia e também de muita alegria. Quando a notícia se espalhou, eu recebi telefonemas, recados no facebook, e-mails, cartas, flores, livros. Todos dizendo que tudo iria ficar bem, que eu era forte e ia vencer. Nunca me senti tão querida. Nunca pensei que tanta gente gostava de mim e se importava com a minha saúde. E foi então que eu acreditei que tudo daria certo e passei a curtir toda essa atenção. Parecia aniversário, minha casa vivia cheia, eu estava feliz, rodeada de amigos e energia boa. Tudo daria certo, eu tinha certeza.
Mais uma vez joguei no Google: Leucemia. E li tudo a respeito. Entrei em pânico. Uma frase grudou na minha cabeça: “sobrevida de 10 anos”. O peso da doença voltou a me atormentar. Fui dormir com o peito cheio de angústia. Resultado: acordei mal, de cama, sem conseguir levantar. Fui internada no mesmo dia. E a partir deste dia eu só sairia do hospital 30 dias depois.
O resultado saiu. Era uma leucemia do tipo M3 raríssima, mas com bom prognóstico. Uma boa notícia, mas eu ainda teria que passar por todo o tratamento pesado, como qualquer leucemia.

A campanha

A campanha para doação de sangue foi um capítulo à parte. Todo dia eu me assustava com a quantidade de gente que estava ajudando a divulgar, quanta gente uniu forças para conseguir doadores. Já que estou escrevendo sobre isso, gostaria de agradecer imensamente a todos que ajudaram de alguma forma e aos ós negativos que foram doar, porque eu usei muito o sangue de vocês. Tomei umas 10 bolsas, que salvavam meu dia. Eu adorava quando tinha transfusão. A médica já entrava no quarto dizendo: “Hoje tem presente para você!” A prostração dava lugar à vida. Todas as mensagens de celular, ligações e posts no Facebook eu fiz depois de uma transfusão, porque só com o meu sangue eu não tinha energia para nada...

O confinamento

Abril foi sem dúvida o pior mês da minha vida. Eu tive todos os efeitos colaterais que eu poderia ter. Todas as complicações aconteceram e eu passei por muitos maus momentos.
De artista circense acrobata eu tinha me transformado em uma velhinha frágil, que precisava de ajuda para comer, levantar, andar, tomar banho...Tentando manter a cabeça boa, vi como uma experiência. Normalmente interpreto personagens fortes , decididos...Agora eu tinha a vivencia da fragilidade, eu poderia aproveitar como um “laboratório” e se me aparecesse algum personagem assim, eu faria com facilidade. Essa animação durou uma semana, na segunda eu já tinha perdido a paciência, não agüentava mais depender dos outros para tudo. E quanto mais eu me irritava, mais fraca eu ficava e mais dependente. De novo me distanciei e tentei me trabalhar, aproveitar aquele sofrimento. Dei uma de professora de teatro: “Como Você se sente, como seu corpo reage com o fato do seu objetivo na cena ser apenas chegar até o banheiro sem acidentes?”
- Me sinto mal, me sinto um zumbi! Alguém me tira daqui!!Não agüento mais tudo isso!
Isso sem contar as dores, os enjôos, a minha inflamação terrível na boca... Fiquei 20 dias sem conseguir comer. A novela estava errada. Perder o cabelo é a parte mais tranqüila. O resto todo é muito pior!
“Por que eu?!?!” – eu gritava no quarto chorando- “Eu não vou conseguir!!É muito duro! È muito difícil! Por que isso tinha que acontecer logo comigo?!?!”
Foi quando meu pai me disse – “A pergunta não é por que você e sim por que não você?Milhões de pessoas passam por isso e por que você não pode passar?O que você tem de especial que não possa passar por isso? Eu sei que é duro, mas você vai conseguir. Tá tudo dando certo, é só questão de tempo. A gente tá aqui com você!”
Minha mãe- Se isso apareceu para você é porque você é forte o suficiente para passar por isso. Eu sei que é difícil, eu daria tudo para estar no seu lugar, mas agüenta mais um pouco, já esta acabando...
A partir daí eu passei a aceitar a doença e o tratamento. Era ruim, muito ruim, mas ia passar. Eu tinha duas coisas que contavam a meu favor: o tipo da doença não precisa de transplante e meu irmão era compatível comigo. Todas as rezas e as energias que me foram enviadas deram resultado afinal. Eu tinha alguma garantia concreta de que tudo daria certo e isso me deu uma tranqüilidade de aceitar a minha condição e passar por isso com a certeza de que teria um fim.

As pérolas

E no 30º dia eu recebi minha alta. Saí do hospital chorando, cheguei em casa chorando. Eu não acreditava que os dias de quarto branco do Big Brother tinham terminado. Eu estava em casa afinal. Eu, que nunca fui de chorar, agora chorava por tudo. Era uma visita, um presente, um filme, uma peça, uma ligação. A minha fragilidade agora era outra. Mas desta eu estava gostando. Eu estava acessando sentimentos e sensações que eu nunca soube que existiam em mim. Que lugar era esse que as coisas comuns me tocavam com tanta força? Por que isso acontecia? Minha percepção do mundo já tinha mudado, tudo ganhou outro valor e eu acho que essa foi minha primeira pérola. Perceber que alguma coisa em mim se transformou e nunca voltaria a ser o que era antes.
Estou agora de “férias” do tratamento em casa, de novo passando por um aniversário fora de época, cheio de visitas, saidinhas, presentes e recados bonitos. Semana que vem eu me interno de novo para a segunda fase da quimioterapia. Não sei o que me espera dessa vez, mas sei que vai passar.
Bom, uma grande coisa aconteceu na minha vida. A pergunta é: O que eu vou fazer com isso? Eu posso guardar na memória como um período ruim da minha vida ou não. E é nesse “ou não” que estão as mais infinitas possibilidades. Uma oportunidade disfarçada de doença, é isso que é. Que venham as pérolas!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

À procura do sonho perdido

Pensei na aula que tive naquele dia, em como poderia ter dito melhor isso ou aquilo, nas coisas que eu não precisava ter dito, no vestido que eu quero comprar, em como estou sem dinheiro, nos trabalhos que eu gostaria de fazer. Pensei em tudo que tinha que fazer no dia seguinte. Pensei que poderia fazer sol para eu ir à praia.
Pensei na cena de um filme, na festa do final de semana, na viagem que eu vou fazer, no livro que eu estou lendo, nas minhas expectativas de vida, nos meus amigos, nos meus sonhos. Pensei no meu irmão que está longe. Lembrei das suas fotos do facebook. Pensei em temas para o blog. Imaginei-me em todos os lugares que eu gostaria de estar. Pensei em coisas proibidas, pensei em coisas erradas e como eu gostaria de pelo menos em pensamento cometer algumas dessas loucuras. Crio as cenas.
Panpanamericano Tantan tan tan... A música tinha ficado na minha cabeça.
Pensei que estava calor, levantei, liguei o ar condicionado. Depois pensei em uma pessoa que eu não gosto e como eu gostaria de dar uma lição de moral nela. Fica frio. Desligo o ar e deixo só o ventilador. Os travesseiros começam a incomodar, tiro um da cabeça e coloco no meio das pernas. Olho no celular. 4:37 da manhã. Eu tinha que acordar as 9. Só tinha menos de 4 horas para conseguir dormir. Angústia.
Coloquei a mão embaixo do meu peito para sentir o meu coração batendo. A pulsação estava rápida demais. Precisava relaxar. Deitei de barriga para cima e respirei fundo 5 vezes. Comecei a tentar relaxar os músculos que estavam tensos.
Panpanamericano Tantan tan tan...
Pensei em como eu faria aula de corpo sem ter conseguido dormir. Comecei a pensar em não pensar. Mas como pensar em não pensar é pensar não consegui.
Fome. Tinha comido pela última vez às 8 da noite. Com fome eu não conseguiria relaxar e dormir. Mas se eu levantasse para comer alguma coisa, meu corpo ia acordar ainda mais e ia ser mais difícil dormir. E ainda teria que escovar os dentes de novo. Preguiça.
Tentei não levantar para comer, mas não conseguia parar de pensar na fome que estava sentindo. Levantei e tomei um Nescau e comi cream cracker com polenguinho. Aliviou um pouco. Escovei os dentes e voltei para dormir.
Pensei em como era uma injustiça de Deus não me deixar dormir. Chorei de raiva. Agora só tinha mais 3 horas para conseguir dormir.
Piupiupiupiupiupiu. Os passarinhos lá fora começam a cantar. Raiva, muita raiva. Era o atestado de que estava amanhecendo e o meu tempo estava se esgotando.
Um passarinho fica mais perto da minha janela e pia em um intervalo de 4 segundos. Piupiupiupiu –silencio de 1,2,3,4 – pipiupiupiupiu – silencio de 1,2,3,4...
Quando ele piava uma vez eu contava os segundos esperando quando ele ia piar de novo. É uma contagem que eu não consegui não fazer. Dá tanta agonia quanto o barulhinho chato de uma torneira pingando no mesmo intervalo de tempo.
Viro para um lado, viro para o outro. Panpanamericano Tantan tan tan...
Calor. Liguei o ar de novo. Abafou um pouco o som do passarinho. A luz do sol atravessa as frestas da persiana. Puta que pariu! Eu preciso dormir!
Au au au au au au. Os cachorros da minha vizinha começam a latir, 5 pastores alemães. Imagino vários tipos de assassinato para fazer com estes cachorros. Botar veneno na ração, acertar com arco e flecha, jogar uma bomba...
Vozes, varias vozes. As pessoas na rua estão indo trabalhar. Que horas são? 7:30. Só tenho uma hora para dormir. Foda-se, não vou dormir mais. Calculo se terei tempo de dormir naquele dia pela tarde. Não, não teria.
Penso em como eu gostaria de ter facilidade para dormir e como eu odiava essas noites angustiantes.
Panpanamericano Tantan tan tan...
Piupiupiupiu –silencio de 1,2,3,4 – pipiupiupiupiu – silencio de 1,2,3,4...
Au au au au au au
Pipipipipipipipipi. O despertador toca, eu levanto olho no espelho e vejo um rosto acabado e com olheiras profundas.
Mais um dia com insônia. O quinto só essa semana.
Mais uma noite sem sonhos, só pensamentos.
Bom dia!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Sobre a leitura

Queria atualizar o blog com algum texto novo. Não tive idéias.

Resolvi postar um trabalho que eu fiz para a faculdade. Ao contrário de muitos outros, este eu gostei de fazer. Se vc gosta de ler, acho que vai gostar dele.
Eu fingi gostar de ler mais do que gosto de verdade. Mas releve o exagero,é que professor gosta de aluno metido a intelectual...





Marcel Proust, em seu texto “Sobre a leitura”, reflete sobre o ato de ler. O que era para ser um simples prefácio, se transforma em um belo hino de amor à leitura.

Proust, quando descreve seus momentos de leitura na infância, nos transporta para o seu mundo particular de pensamentos e sensações, nos fazendo lembrar junto com ele dos nossos próprios delírios, do tempo em que estivemos enfeitiçados por algum livro.
A nossa perspectiva muda quando estamos lendo. O mundo ganha um sabor diferente, as imagens parecem querer nos dizer algo, as vozes que antes eram tão familiares agora parecem ter uma melodia nova, os cheiros se transformam em portadores de lembranças... Os detalhes da vida ficam mais vivos.

Na medida em que descreve os locais e as condições em que lia seu livro, Proust nos mostra que as lembranças daquela leitura são na verdade as lembranças do seu quarto, do almoço, que interrompia sua leitura, do vizinho, do cotidiano da sua casa, do sino da igreja, das flores do campo... Descreve como eram felizes os momentos de silêncio e solidão, quando ninguém aparecia para importunar sua leitura.

É um texto que consegue transformar em palavras o fluxo intenso de sensações que todos nós temos quando estamos mergulhados em alguma história. Uma bela introdução para um livro que vai exatamente refletir sobre a leitura.

Proust resume a principal idéia contida no livro “Trésors dês Rois” de Ruskin com palavras de Descartes: “a leitura de todos os bons livros é como uma conversação com as pessoas mais honestas dos séculos passados que foram seus autores.”

Ele diz que mesmo que sejamos suficientemente inteligentes para escolher bem as nossas amizades e que possamos travar conversas interessantíssimas com essas pessoas, mesmo assim, a experiência da leitura é superior. O ato de conversar está ligado ao que é externo, dissipando as idéias, enquanto que a leitura consegue a façanha de ser uma conversa com o outro sem sair do lugar reflexivo e de poder intelectual que só a solidão proporciona.

Sem contar que os autores dos livros são homens muito mais sábios e mais interessantes que aqueles que podemos ter a chance de conhecer à nossa volta. E eles estão ali, sempre a disposição, sem precisar que marquemos uma hora para o encontro.
Outra teoria, que de início parece até desanimadora, é a de que os livros têm por função apenas provocar incitações, desejos em nós leitores. Cada conclusão feita por seu autor assinala o ponto de partida da nossa própria reflexão e busca da verdade. Gostaríamos que eles nos dessem respostas, porém a nossa sabedoria só nasce quando termina a do autor.

“Este é o preço da leitura e esta é a sua insuficiência. É dar um papel muito grande ao que não é mais que uma iniciação para uma disciplina. A leitura está no limiar da vida espiritual; ela pode nela nos introduzir, mas não a constitui.”

A leitura tem o poder de recuperar aquelas almas que já não sabem mais o caminho da sua própria verdade e criatividade. Proust compara estes “doentes” com aqueles doentes da preguiça, que não tem vontade de fazer nada na vida e que precisam de um agente externo, um médico talvez, para que eles voltem a fazer suas atividades. A leitura serve como este agente externo que transporta a pessoa de novo para a sua própria individualidade, para a sua imaginação, para a sua complexidade, oferecendo de novo o caminho das pedras para que o leitor possa se encontrar com seus tesouros escondidos. É o estímulo de outro espírito, mas recebido no seio da solidão.

A leitura torna-se perigosa, no entanto, quando tende a substituir a vida pessoal do espírito. Seu papel é incitar o leitor a procurar a sua verdade particular e não ser esta verdade. A verdade não é concreta ou está escrita em algum lugar, esperando que nos a encontremos. Por isso a leitura eficiente é a ativa, em que o leitor também é autor. Limitar-se ao que está escrito e só, é subestimar o poder que o livro pode ter.

Bom, tendo terminado meu trabalho de Português(que fez o favor de importunar minha leitura), posso voltar ao livro que eu estava lendo e finalmente saber se Dorian Gray vai envelhecer ou ficar jovem para sempre.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Por um final feliz. Ou não.


Tem coisa mais irritante do que final de filme ruim??
Já estava quase dormindo quando vi começar no Telecine o filme "A Troca" com Angelina Jolie. Queria muito ver esse filme, então fiquei acordada e durante 2 horas fiquei segurando o sono. O filme é muito bom, se não fosse por um detalhe: ele não desvenda o principal mistério do filme.
Uma mulher tem o filho desaparecido. A polícia acha o garoto errado. A mãe fica desesperada com isso e vai a imprensa divulgar o erro da policia, que por sua vez a interna em um hospício para não ser obrigada a assumir o engano que cometeu. Eis que uma chacina de crianças é descoberta e aparece a informação de que o filho verdadeiro estaria entre os mortos. No final surge um sobrevivente da chacina que conta que o filho talvez tenha conseguido escapar.
Fim do filme. É do tipo que explica o que aconteceu depois com texto escrito.
Texto: "E ela nunca parou de procurar seu filho." FIM
Fim???

Como assim "Fim"????

O que aconteceu com o garoto???Ele morreu? Ele escapou? Ele nunca mais encontrou a mãe? Eles se encontram depois de anos? O que aconteceu!!?!?!?
Odeio filme que não subestima minha inteligência! Me subestime! Eu não sei o que aconteceu e não quero tirar minhas próprias conclusões!
Um filme é feito para contar uma história!! Então conte a história toda, por favor!

Já´pensou se "A Cinderela" terminasse com o príncipe com o sapatinho na mão na escadaria do palácio? " E ele nunca parou de procurar a dona do sapatinho." FIM

Nãoo!! Histórias completas por favor!!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

sexta-feira, 19 de março de 2010

Paradoxo

Eu estava ontem no metrô e saltei na estação de Ipanema, que acabou de ser inaugurada e é enorme.
Um garotinho de uns 4 anos brincava com o eco que a caverna proporcionava:
- Oieeee!!! Tem alguém aí?!?!Alouuu!! Tem alguém aí?!?!
E milhões de pessoas marchavam para seus afazeres cotidianos.
- Tem alguém aíii!?!?!?!?!
Silêncio. Ninguém responde.
É, não tinha ninguém ali.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Carnaval do vale-carne


Na semana passada eu estava assistindo ao filme “Perfume”, adaptação para o cinema do romance do escritor alemão Patrick Süskind “O Perfume, Historia de um assassino”, que conta a história de um rapaz com o olfato apurado que não possuia cheiro próprio. No filme, o menino assassina mulheres virgens para extrair do corpo de cada uma, um aroma específico. Ele junta todas as essências corporais que conseguiu e constrói um perfume extraordinário.
Em uma cena em que esta prestes a ser condenado pelos assassinatos que cometeu, ele pinga em um lenço algumas gotas do perfume e deixa que o aroma se propague pela praça lotada de gente. Na medida que as pessoas vão sentindo aquele cheiro, elas se entregam a explícitos gestos de desejo e amor, sem pudor nenhum. A cena resulta em uma orgia generalizada que dura algum tempo. Depois que acordam daquele transe, as pessoas retornam à vida normal sem que ninguém comente nada. O constrangimento é generalizado.
Bom, o fato é que, além de achar a cena plasticamente muito bonita, ela me chama a atenção por mostrar o quanto é inerente ao ser-humano o desejo sexual ou o prazer carnal, que só não são livremente saciados e demonstrados por conta de uma “coisa” maior que tem por função controlar e educar tais instintos.
O perfume, no filme, funciona como um inibidor dessas leis deixando que os desejos e as vontades se expressem livremente. É devasso, libertador e belo.
Eu morei dez anos em Salvador, e pude viver de perto a manifestação tida como a maior festa popular do mundo: o carnaval. A própria etimologia da palavra que é a junção de “carne vale”, referência ao período da quaresma no calendário católico, acabou se tornando realmente um “vale carne”, só que aqui se tratando de outro tipo de carne...
É uma espécie de catarse coletiva, em que uma certa promiscuidade é permitida e não é vista com “maus olhos”. Como se todos estivesses sob o efeito do tal perfume do filme. E é curioso que, como no filme, quando o “efeito” passa, as pessoas evitam comentar sobre o que se passou, já que ali foi uma vivência particular que não pode ser julgada como seria na vida cotidiana. É a consciência coletiva deixada de lado, por um instante.
Como somos hipócritas e devassos ao mesmo tempo!Como somos juízes e réus!
Já que mudar o puritanismo é difícil, o negócio é aproveitar a cegueira da moralidade.
No carnaval, envolva-se, namore, dance, beije, apaixone-se, ame, ame de novo, e de novo...
Pra quem já tem o seu par o mesmo conselho vale. Intensifique, renove.
Os juízes estão de férias e o perfume é de graça!
Divirtam-se!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Doença é um must!

Todo mundo odiava a Camila de “Laços de Família”, foi só ela ficar com leucemia e raspar o cabelo que todo mundo passou a ter alguma simpatia por ela. Alguns até choraram na cena em que ela raspava o cabelo.

Agora é a Luciana, em “Viver a vida” que ficou tetraplégica. Pronto, virou a mocinha.

Sofrimento é uma coisa que dignifica, sofrimento traz humanidade, respeito. Gente famosa mesmo adora contar em entrevista como teve uma infância difícil, ou como penou para alcançar o reconhecimento. Mas se contar que teve uma doença ganha 10 pontos de vantagem, dá muita moral!

Bom, eu tive TUBERCULOSE ÓSSEA (é, eu também não sabia que existia...). E adoro contar que tive, ganho crédito com as pessoas. É raro, poucas pessoas tem. Sinto que sou importante. E fora que esse nome é lindo, “tuberculose óssea”. Não podia ter tido uma doença com nome melhor! Compare aí: “Gripe suína” versus “tuberculose óssea”. É outro requinte!

Tive no osso da bacia um buraco corroído pelo bacilo infeccioso. Tinha dores horrorosas, fazendo-me rolar pelo chão de desespero. Era uma dor que pulsava para o corpo todo, como se fosse uma dor de dente exagerada. Fui a vários médicos e nenhum conseguiu diagnosticar qualquer coisa. Passei a tomar relaxantes musculares exageradamente, de modo que fui parar no hospital porque meu estômago não estava mais agüentando tanto remédio.

Foi quando alguém indicou um ortopedista excelente. Um japonês aí. O tal japonês, especialista em tumores, analisando meus exames, disse:

- Isso tem toda a cara de tumor benigno, vamos ter que operar para extraí-lo. Você não poderá encostar o pé no chão durante 6 meses. Vai ter que usar muleta.

Marcou o dia da operação. Porém ainda não estávamos convencidos. Foi quando fui consultar um dos melhores médicos de São Paulo e tentar uma outra opinião.

- Operar?? Tá maluca?? Precisamos fazer uma biópsia para saber o que é antes de qualquer coisa.

Biópsia feita, o que não deixa de ser uma cirurgia, o resultado foi: Inflamação.

Japonês filho da p*

Mas ninguém sabia que inflamação era. Um terceiro médico então disse que existiam 4 opções, mas que a mais provável era de ser uma tuberculose.

- Toma o remédio de tuberculose, se parar de doer é porque era tuberculose mesmo...

Nesse lenga-lenga já iam alguns meses...

Nessa época estava em cartaz com o “Todo mundo tem problemas sexuais” em Salvador e a dor era tanta que eu acabava minha cena e ia para o camarim chorar. Não estava agüentando pisar no chão direito. O clímax do sofrimento.

Passei a usar muletas para só fazer o esforço de pisar no chão na hora da peça.

Sem muita opção, comecei o tratamento de tuberculose, tomando o remédio do posto de saúde. Bem, a dor foi passando. Era tuberculose afinal.

Doença de gente fraquinha, sem imunidade. Passei a tomar o Centrum do Luciano Huck junto com reposição de cálcio pra ficar fortinha.

6 meses de tratamento e fiquei curada.

Viu só?! Sou digna de respeito, de crédito! Eu sou vivida, sou madura, já passei por muita coisa nessa vida! Eu sofri.

Meu Deus! Eu dei muito mole!!!

Se o povo tivesse acompanhado meu drama, eu ia virar a namoradinha do Brasil!

Podia ter feito um reality show, um vídeo no youtube dividido em capítulos... Eu podia ter sido um episódio de minissérie de médico, um depoimento no final da novela das 8, eu podia ter criado um e-mail-corrente...

Mães de família iam se comover, eu ia receber doações em dinheiro, ia posar para a “Playboy” segurando uma muleta, ia participar do programa do Gugu, da “Fazenda”...

Não aproveitei.

Merda!!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

"2001"- Uma odisséia para entender...


Depois de muita insistência de meu pai, assisti à "2001". Durmi umas 4 vezes, demorei 2 dias pra ver inteiro, mas é um ícone né? É daqueles que tem que ver. Quando ele chegou no meio mais ou menos é que eu saquei qual é a do filme. Depois que acabou , fiquei um dia inteiro na internet procurando explicações , interpretações. Fiquei realmente encucada e admirada. Na faculdade surgiu a oportunidade de escrever sobre ele, então fiz esse texto, não tem graça, mas eu sempre quis postar alguma coisa sobre esse filme. Quem assistiu por favor dê pitaco.



É lento, arrastado, cansativo, as vezes chato e a maioria dos que assistem não conseguem o fazer sem dar uma cochiladinha entre uma sequência e outra. Porém com todos esses adjetivos, a ficção científica “2001 – Uma odisséia no espaço” (1968), de Stanley Kubrick, consegue ser uma das maiores obras-primas da história do cinema. É lento porque é complexo, é cansativo porque exige cérebro, é chato porque seu tempo é outro, sem imediatismos. Com 139 minutos e apenas 40 de diálogo, “2001” mostra a evolução da raça humana desde seus antepassados, os macacos, até a era da tecnologia, o século XXI (inclusive, é o maior corte temporal da história do cinema, Kubrick sai da pré-história para este século em um instante).

Passados 40 anos do seu lançamento, o filme ainda é motivo de discussão porque é uma obra em que varias interpretações e reflexões são possíveis, de modo que por mais que algumas sejam muito plausíveis, nenhuma é certa. E não é para ser. É tudo uma provocação para a mente.

Outros trunfos atribuídos a obra são a trilha sonora e os efeitos especiais. Composta de músicas clássicas, a trilha cria uma atmosfera em que as naves parecem dançar no espaço. Sem computadores pra efeitos, Kubrick faz milagre ao conseguir reproduzir um espaço totalmente crível e belo.

Para tratar da evolução do homem, Kubrick retrocede à pré-história e mostra como tudo começou. Depois de um monólito ser colocado misteriosamente no meio de um bando de macacos, um deles, não se sabe se por sua curiosidade natural ou pelo monólito em si, descobre que um pedaço de osso pode ser uma ferramenta e um instrumento de dominação. A partir daí o mundo nunca mais será o mesmo e dá-se inicio a “evolução” (entre aspas mesmo).

Essa “evolução” faz o macaco transformar-se em homem e chegar até o século XXI, no momento máximo de sua inventividade tecnológica. É neste momento que os papéis começam a se inverter. Se computadores e máquinas foram criados para serem ferramentas do uso humano, agora estas máquinas são tão auto-suficientes e inteligentes que precisam dos humanos apenas como técnicos de manutenção, como ferramentas. Parece que voltaram à sua essência de macacos. E é aí que se dá o conflito do filme, a luta entre o homem e a máquina.

Esta máquina é o computador HAL 9000, que acaba fazendo o papel de bandido. Na "missão Júpiter" HAL é o controlador da nave espacial.Depois de identificar um erro de HAL, a tripulação resolve desligá-lo. Porém, o computador pensa que está vivo e não permite tal idéia. Nesta batalha, o homem acaba por vencer matando HAL com a mais simples das ferramentas: a chave de fenda. É engraçado perceber como o computador é humanizado, com direito a desejos e personalidade próprios, enquanto os membros da tripulação são reduzidos a animais irracionais, sendo tratados com desdém por HAL.

Agora o homem encontra-se sozinho no espaço com a morte se aproximando.

No final do filme, com uma sequência um tanto psicodélica, Kubrick coloca o homem de frente com a sua própria morte, da qual sua evolução tecnológica não o fez escapar. E então finaliza o filme de forma intrigante: sugere que o desprendimento do corpo físico liberta a alma para a imortalidade, fazendo com que este seja o ultimo passo na historia da evolução.

Bom, isso não deixa de ser um palpite, já que qualquer outra interpretação é possível. Essa luta homem-máquina existiu? Existirá? Existe? E os homens, deixarão de ter seu corpo físico no futuro? E o monólito? O que é afinal? Um Deus? Um ET? O controlador do universo? Muitas perguntas, poucas respostas. É, a graça é essa.