
Na semana passada eu estava assistindo ao filme “Perfume”, adaptação para o cinema do romance do escritor alemão Patrick Süskind “O Perfume, Historia de um assassino”, que conta a história de um rapaz com o olfato apurado que não possuia cheiro próprio. No filme, o menino assassina mulheres virgens para extrair do corpo de cada uma, um aroma específico. Ele junta todas as essências corporais que conseguiu e constrói um perfume extraordinário.
Em uma cena em que esta prestes a ser condenado pelos assassinatos que cometeu, ele pinga em um lenço algumas gotas do perfume e deixa que o aroma se propague pela praça lotada de gente. Na medida que as pessoas vão sentindo aquele cheiro, elas se entregam a explícitos gestos de desejo e amor, sem pudor nenhum. A cena resulta em uma orgia generalizada que dura algum tempo. Depois que acordam daquele transe, as pessoas retornam à vida normal sem que ninguém comente nada. O constrangimento é generalizado.
Bom, o fato é que, além de achar a cena plasticamente muito bonita, ela me chama a atenção por mostrar o quanto é inerente ao ser-humano o desejo sexual ou o prazer carnal, que só não são livremente saciados e demonstrados por conta de uma “coisa” maior que tem por função controlar e educar tais instintos.
O perfume, no filme, funciona como um inibidor dessas leis deixando que os desejos e as vontades se expressem livremente. É devasso, libertador e belo.
Eu morei dez anos em Salvador, e pude viver de perto a manifestação tida como a maior festa popular do mundo: o carnaval. A própria etimologia da palavra que é a junção de “carne vale”, referência ao período da quaresma no calendário católico, acabou se tornando realmente um “vale carne”, só que aqui se tratando de outro tipo de carne...
É uma espécie de catarse coletiva, em que uma certa promiscuidade é permitida e não é vista com “maus olhos”. Como se todos estivesses sob o efeito do tal perfume do filme. E é curioso que, como no filme, quando o “efeito” passa, as pessoas evitam comentar sobre o que se passou, já que ali foi uma vivência particular que não pode ser julgada como seria na vida cotidiana. É a consciência coletiva deixada de lado, por um instante.
Como somos hipócritas e devassos ao mesmo tempo!Como somos juízes e réus!
Já que mudar o puritanismo é difícil, o negócio é aproveitar a cegueira da moralidade.
No carnaval, envolva-se, namore, dance, beije, apaixone-se, ame, ame de novo, e de novo...
Pra quem já tem o seu par o mesmo conselho vale. Intensifique, renove.
Os juízes estão de férias e o perfume é de graça!
Divirtam-se!
Que fantástico esse texto, Moniquinha!
ResponderExcluirUma análise-convite muito sincera ao Carnaval e seus princípios. Parece até que você é baiana! rsrs.
Tenha um delicioso carnaval!
"Já que mudar o puritanismo é difícil, o negócio é aproveitar a cegueira da moralidade."
ResponderExcluirÉ uma frase que eu vou levar pelo resta da vida!!
GENIAL!
hahaha
Arrasou, no post Moniquinha!
beijos
Fora hipocrisia o ano todo, não vamos nos contentar só com o Carnaval não!!!!!!!!!!! Como diria o bom e velho samba: liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós!!!
ResponderExcluir1- Gostei muito do texto. Da idéia e da escrita.
ResponderExcluir2- Pois é essa tal "coisa" que você escreve entre aspas no post é chamado por Freud de "metaética" que ele aborda no livro "O mal estar da civilização", que fala muito sobre este tema que vc abordou.
3- O Perfume filme é phoda.
4- Vc falou sobre puritanismo, lembrei de um frase queu me amarro do Oscar Wilde: "Aponte-me um puritano que lhe mostrarei um filho da puta".
5- Escreva mais, visite meu blog e mande um beijo pro meu irmão Zilu.
Genial!! Adorei o texto
ResponderExcluirMonka, adoro esse seu jeito de escrever, sinto você pertinho de mim. E você sabe que este é o assunto que mais me interessa na vida, né? Pelo tema você já me ganha, pelo filme, me ganha de novo, pelo carnaval, nem se fala...
ResponderExcluirAmo esse texto!