segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

À procura do sonho perdido

Pensei na aula que tive naquele dia, em como poderia ter dito melhor isso ou aquilo, nas coisas que eu não precisava ter dito, no vestido que eu quero comprar, em como estou sem dinheiro, nos trabalhos que eu gostaria de fazer. Pensei em tudo que tinha que fazer no dia seguinte. Pensei que poderia fazer sol para eu ir à praia.
Pensei na cena de um filme, na festa do final de semana, na viagem que eu vou fazer, no livro que eu estou lendo, nas minhas expectativas de vida, nos meus amigos, nos meus sonhos. Pensei no meu irmão que está longe. Lembrei das suas fotos do facebook. Pensei em temas para o blog. Imaginei-me em todos os lugares que eu gostaria de estar. Pensei em coisas proibidas, pensei em coisas erradas e como eu gostaria de pelo menos em pensamento cometer algumas dessas loucuras. Crio as cenas.
Panpanamericano Tantan tan tan... A música tinha ficado na minha cabeça.
Pensei que estava calor, levantei, liguei o ar condicionado. Depois pensei em uma pessoa que eu não gosto e como eu gostaria de dar uma lição de moral nela. Fica frio. Desligo o ar e deixo só o ventilador. Os travesseiros começam a incomodar, tiro um da cabeça e coloco no meio das pernas. Olho no celular. 4:37 da manhã. Eu tinha que acordar as 9. Só tinha menos de 4 horas para conseguir dormir. Angústia.
Coloquei a mão embaixo do meu peito para sentir o meu coração batendo. A pulsação estava rápida demais. Precisava relaxar. Deitei de barriga para cima e respirei fundo 5 vezes. Comecei a tentar relaxar os músculos que estavam tensos.
Panpanamericano Tantan tan tan...
Pensei em como eu faria aula de corpo sem ter conseguido dormir. Comecei a pensar em não pensar. Mas como pensar em não pensar é pensar não consegui.
Fome. Tinha comido pela última vez às 8 da noite. Com fome eu não conseguiria relaxar e dormir. Mas se eu levantasse para comer alguma coisa, meu corpo ia acordar ainda mais e ia ser mais difícil dormir. E ainda teria que escovar os dentes de novo. Preguiça.
Tentei não levantar para comer, mas não conseguia parar de pensar na fome que estava sentindo. Levantei e tomei um Nescau e comi cream cracker com polenguinho. Aliviou um pouco. Escovei os dentes e voltei para dormir.
Pensei em como era uma injustiça de Deus não me deixar dormir. Chorei de raiva. Agora só tinha mais 3 horas para conseguir dormir.
Piupiupiupiupiupiu. Os passarinhos lá fora começam a cantar. Raiva, muita raiva. Era o atestado de que estava amanhecendo e o meu tempo estava se esgotando.
Um passarinho fica mais perto da minha janela e pia em um intervalo de 4 segundos. Piupiupiupiu –silencio de 1,2,3,4 – pipiupiupiupiu – silencio de 1,2,3,4...
Quando ele piava uma vez eu contava os segundos esperando quando ele ia piar de novo. É uma contagem que eu não consegui não fazer. Dá tanta agonia quanto o barulhinho chato de uma torneira pingando no mesmo intervalo de tempo.
Viro para um lado, viro para o outro. Panpanamericano Tantan tan tan...
Calor. Liguei o ar de novo. Abafou um pouco o som do passarinho. A luz do sol atravessa as frestas da persiana. Puta que pariu! Eu preciso dormir!
Au au au au au au. Os cachorros da minha vizinha começam a latir, 5 pastores alemães. Imagino vários tipos de assassinato para fazer com estes cachorros. Botar veneno na ração, acertar com arco e flecha, jogar uma bomba...
Vozes, varias vozes. As pessoas na rua estão indo trabalhar. Que horas são? 7:30. Só tenho uma hora para dormir. Foda-se, não vou dormir mais. Calculo se terei tempo de dormir naquele dia pela tarde. Não, não teria.
Penso em como eu gostaria de ter facilidade para dormir e como eu odiava essas noites angustiantes.
Panpanamericano Tantan tan tan...
Piupiupiupiu –silencio de 1,2,3,4 – pipiupiupiupiu – silencio de 1,2,3,4...
Au au au au au au
Pipipipipipipipipi. O despertador toca, eu levanto olho no espelho e vejo um rosto acabado e com olheiras profundas.
Mais um dia com insônia. O quinto só essa semana.
Mais uma noite sem sonhos, só pensamentos.
Bom dia!