quinta-feira, 14 de julho de 2011

Fala que eu te escuto!

Nunca tinha ido a uma psicóloga. Não que eu não precise de uma, mas nunca pensei em gastar dinheiro com isso, afinal eu tinha amigos e poderia muito bem conversar com eles sobre as minhas crises.

Na clínica em que eu estou tratando a leucemia, eles oferecem, como parte do tratamento, consultas com uma psicóloga na própria clínica. Bom, já que fazia parte do pacote eu fui.

(Aviso - Não pretendo escrever aqui nada que desmereça a profissão do psicólogo, afinal só tive 3 sessões, muito pouco tempo para dar qualquer opinião, só usei a experiência como ponto de partida para uma reflexão. E eu particularmente estou simpatizando muito com a minha psicóloga.)

Mas como é engraçada uma sessão de terapia! No final das contas a outra pessoa está ali basicamente para te ouvir e ir guiando o seu raciocínio. Às vezes o foco do problema você mesmo encontra, sem precisar que o profissional te mostre o caminho. Você está ali basicamente para falar e a outra pessoa para te ouvir.

Posso estar falando uma besteira, mas me dá a sensação que essa profissão só existe porque as pessoas comuns não te escutam. E todo mundo só quer ser escutado por alguém, mas ninguém quer escutar.

Quando você simpatiza com alguém na vida, normalmente é porque a pessoa simplesmente te escutou, se interessou realmente pelo que você dizia.

Quantas vezes já não aconteceu de você estar conversando com alguém e a pessoa só procurar pausas na sua fala para mostrar a sua própria experiência no assunto?

A pessoa pergunta, mas não quer ouvir a resposta.

-Como foi que você se interessou pelo teatro?

- Eu era muito tímida quando era menor e por influência de uma amiga acabei entrando no teatro e assim que...

O outro corta o papo na mesma hora que enxerga qualquer possibilidade de coisa em comum. As pessoas caçam coisas em comum no discurso das outras! Principalmente quando estão se conhecendo.

-Ah! Eu também era muito tímido quando era menor!! Não conseguia falar nada, nossa! Quando eu ia para escola, minha mãe me deixava com a professora, como era o nome del... Tia Flávia! E aí eu entrava na sala com a tia Flávia e blá blá blá...

Tipo, foda-se como eu entrei no teatro né?

E quando a pessoa para se mostrar interessada, quer forçar uma proximidade com o assunto?

- Você faz o que?

- Sou atriz.

-Serio?? Nossa, eu sempre quis ser ator, mas sabe como é a vida né? Precisa ganhar dinheiro! Acabei fazendo engenharia mecatrônica... Mas eu sempre participava das peças da escola e eu nunca bla, bla, bla...

Mulher também tem mania de sempre comparar as experiências amorosas, sendo que só uma está com um problema.

“O Ricardo fazia muito isso.” “Eu nunca ia deixar o Marcinho fazer isso, nunca!” “Eu já passei por isso! Quando eu ficava com o fulaninho de tal e mais bla bla bla...”

E o mais irritante é quando o outro quer superar a sua experiência.

“É que eu tive leucemia e ..”

“Minha tia teve um câncer no fígado que passou para a cabeça, ficou em coma por 7 anos e voltou a vida! Vai dar tudo certo para você!”

Porra! Quer saber ou não quer saber?

E a gente já está tão condicionado que teme qualquer pausa maior. Na vida quando você dá uma pausa normalmente a outra já se encaixa naquela pequena respiração e desata a falar.

Na psicóloga, eu estava falando muito e fiz uma pausa para pensar no que falaria em seguida.

Silêncio. Ninguém fala. Os 15 segundos mais longos do mundo. Só uma profissional mesmo poderia ficar tanto tempo em silêncio.

A verdade é que somos todos carentes de atenção. Queremos ser interessantes, admirados, queremos contar como somos vividos, como sabemos das coisas e que mais importante do que conhecer o outro é que o outro te conheça.

Blog é bom né? Dá para falar a vontade sem que ninguém te interrompa.

Pronto acabei. Agora podem falar vocês. Eu juro que vou ouvir.