No sinal uma mulher circense
fazia malabarismo. Primeiro com três claves e depois acrescentava uma bola. E
depois subia em um monociclo. Um show de habilidades costumeiro de sinais de
trânsito, onde alguns dariam uns trocados e outros não.
Porém essa mulher, apesar de
claramente dominar as técnicas, naquele sinal fechado de oito e vinte da noite
de sábado não conseguiu fazer o seu número. A bola que ela tentava acrescentar
caiu em todas as suas tentativas. Um pouco chateada ela tentava de novo e de
novo, subia no monociclo, às vezes conseguia ficar um tempo e às vezes caía
logo. Com um pouco de vergonha do fiasco do número ela riu pra si mesma e
procurou a cumplicidade dos motoristas com um “foi mal, não tô conseguindo...”
Eu assistia a cena do banco de
trás de um taxi. Ao ver as tentativas frustradas da malabarista, fiquei com
vontade de dar algum dinheiro para incentivar, mas demorei demais para abrir a
carteira. Antes disso, o motorista do taxi rapidamente pegou uma nota de 5
reais e deu a ela dizendo “Não desiste não!” O outro carro do lado também deu
alguma coisa.
Estou contando isso porque acho
que eu, o motorista do taxi e o cara do lado tivemos o mesmo sentimento. Um
sentimento que seria diferente se ela tivesse feito um número perfeito. Porque o erro, a tentativa frustrada são
coisas tão próprias do humano que a identificação é inevitável. É como se vendo
a mulher fracassando, todos nós nos víssemos ali, nos nossos próprios erros, constrangimentos,
nas expectativas frustradas e nos confortássemos em saber que não somos os
únicos. O dinheiro é quase um “tamo junto nessa”, o erro a trouxe para perto de nós. Porque as experiências de
se apresentar no sinal ou fazer malabarismos pouca gente dentro dos carros teve,
mas tentar e não conseguir é coisa de todo dia, de todo mundo. O acerto do outro provoca admiração (ou
inveja) e o erro compaixão, simpatia.
A fragilidade dela ficou ali
exposta para nós, que de imediato só pensamos em dar colo, em fazer ela se
sentir melhor, porque talvez seja tudo o que queremos para nós também. Me fez
pensar que a tentativa tenha tanto valor quanto o acerto. A tentativa é sempre
bem vista, ao contrário da conformação. Sem falar que a tentativa/erro é o
caminho natural do acerto. Uma tentativa
mesmo que frustrada vale e vale muito. Não sei quanto ela ganha a cada sinal
vermelho, mas que aquele me pareceu mais lucrativo, pareceu.
Isso ou o motorista daria o dinheiro e eu
tentaria pegar o dinheiro e o cara do lado daria o dinheiro se ela tivesse
feito tudo certinho. Não sei.
Ou ela já sacou que a tentativa
frustrada toca mais o nosso coração que o espetáculo e erra de propósito...