sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Doença é um must!

Todo mundo odiava a Camila de “Laços de Família”, foi só ela ficar com leucemia e raspar o cabelo que todo mundo passou a ter alguma simpatia por ela. Alguns até choraram na cena em que ela raspava o cabelo.

Agora é a Luciana, em “Viver a vida” que ficou tetraplégica. Pronto, virou a mocinha.

Sofrimento é uma coisa que dignifica, sofrimento traz humanidade, respeito. Gente famosa mesmo adora contar em entrevista como teve uma infância difícil, ou como penou para alcançar o reconhecimento. Mas se contar que teve uma doença ganha 10 pontos de vantagem, dá muita moral!

Bom, eu tive TUBERCULOSE ÓSSEA (é, eu também não sabia que existia...). E adoro contar que tive, ganho crédito com as pessoas. É raro, poucas pessoas tem. Sinto que sou importante. E fora que esse nome é lindo, “tuberculose óssea”. Não podia ter tido uma doença com nome melhor! Compare aí: “Gripe suína” versus “tuberculose óssea”. É outro requinte!

Tive no osso da bacia um buraco corroído pelo bacilo infeccioso. Tinha dores horrorosas, fazendo-me rolar pelo chão de desespero. Era uma dor que pulsava para o corpo todo, como se fosse uma dor de dente exagerada. Fui a vários médicos e nenhum conseguiu diagnosticar qualquer coisa. Passei a tomar relaxantes musculares exageradamente, de modo que fui parar no hospital porque meu estômago não estava mais agüentando tanto remédio.

Foi quando alguém indicou um ortopedista excelente. Um japonês aí. O tal japonês, especialista em tumores, analisando meus exames, disse:

- Isso tem toda a cara de tumor benigno, vamos ter que operar para extraí-lo. Você não poderá encostar o pé no chão durante 6 meses. Vai ter que usar muleta.

Marcou o dia da operação. Porém ainda não estávamos convencidos. Foi quando fui consultar um dos melhores médicos de São Paulo e tentar uma outra opinião.

- Operar?? Tá maluca?? Precisamos fazer uma biópsia para saber o que é antes de qualquer coisa.

Biópsia feita, o que não deixa de ser uma cirurgia, o resultado foi: Inflamação.

Japonês filho da p*

Mas ninguém sabia que inflamação era. Um terceiro médico então disse que existiam 4 opções, mas que a mais provável era de ser uma tuberculose.

- Toma o remédio de tuberculose, se parar de doer é porque era tuberculose mesmo...

Nesse lenga-lenga já iam alguns meses...

Nessa época estava em cartaz com o “Todo mundo tem problemas sexuais” em Salvador e a dor era tanta que eu acabava minha cena e ia para o camarim chorar. Não estava agüentando pisar no chão direito. O clímax do sofrimento.

Passei a usar muletas para só fazer o esforço de pisar no chão na hora da peça.

Sem muita opção, comecei o tratamento de tuberculose, tomando o remédio do posto de saúde. Bem, a dor foi passando. Era tuberculose afinal.

Doença de gente fraquinha, sem imunidade. Passei a tomar o Centrum do Luciano Huck junto com reposição de cálcio pra ficar fortinha.

6 meses de tratamento e fiquei curada.

Viu só?! Sou digna de respeito, de crédito! Eu sou vivida, sou madura, já passei por muita coisa nessa vida! Eu sofri.

Meu Deus! Eu dei muito mole!!!

Se o povo tivesse acompanhado meu drama, eu ia virar a namoradinha do Brasil!

Podia ter feito um reality show, um vídeo no youtube dividido em capítulos... Eu podia ter sido um episódio de minissérie de médico, um depoimento no final da novela das 8, eu podia ter criado um e-mail-corrente...

Mães de família iam se comover, eu ia receber doações em dinheiro, ia posar para a “Playboy” segurando uma muleta, ia participar do programa do Gugu, da “Fazenda”...

Não aproveitei.

Merda!!