domingo, 22 de dezembro de 2013

Erro X Acerto



No sinal uma mulher circense fazia malabarismo. Primeiro com três claves e depois acrescentava uma bola. E depois subia em um monociclo. Um show de habilidades costumeiro de sinais de trânsito, onde alguns dariam uns trocados e outros não.

Porém essa mulher, apesar de claramente dominar as técnicas, naquele sinal fechado de oito e vinte da noite de sábado não conseguiu fazer o seu número. A bola que ela tentava acrescentar caiu em todas as suas tentativas. Um pouco chateada ela tentava de novo e de novo, subia no monociclo, às vezes conseguia ficar um tempo e às vezes caía logo. Com um pouco de vergonha do fiasco do número ela riu pra si mesma e procurou a cumplicidade dos motoristas com um  “foi mal, não tô conseguindo...”
Eu assistia a cena do banco de trás de um taxi. Ao ver as tentativas frustradas da malabarista, fiquei com vontade de dar algum dinheiro para incentivar, mas demorei demais para abrir a carteira. Antes disso, o motorista do taxi rapidamente pegou uma nota de 5 reais e deu a ela dizendo “Não desiste não!” O outro carro do lado também deu alguma coisa.

Estou contando isso porque acho que eu, o motorista do taxi e o cara do lado tivemos o mesmo sentimento. Um sentimento que seria diferente se ela tivesse feito um número perfeito.  Porque o erro, a tentativa frustrada são coisas tão próprias do humano que a identificação é inevitável. É como se vendo a mulher fracassando, todos nós nos víssemos ali, nos nossos próprios erros, constrangimentos, nas expectativas frustradas e nos confortássemos em saber que não somos os únicos. O dinheiro é quase um “tamo junto nessa”, o erro a trouxe  para perto de nós. Porque as experiências de se apresentar no sinal ou fazer malabarismos pouca gente dentro dos carros teve, mas tentar e não conseguir é coisa de todo dia, de todo mundo.  O acerto do outro provoca admiração (ou inveja) e  o erro compaixão, simpatia.

A fragilidade dela ficou ali exposta para nós, que de imediato só pensamos em dar colo, em fazer ela se sentir melhor, porque talvez seja tudo o que queremos para nós também. Me fez pensar que a tentativa tenha tanto valor quanto o acerto. A tentativa é sempre bem vista, ao contrário da conformação. Sem falar que a tentativa/erro é o caminho natural do acerto.  Uma tentativa mesmo que frustrada vale e vale muito. Não sei quanto ela ganha a cada sinal vermelho, mas que aquele me pareceu mais lucrativo, pareceu.

 Isso ou o motorista daria o dinheiro e eu tentaria pegar o dinheiro e o cara do lado daria o dinheiro se ela tivesse feito tudo certinho. Não sei.

Ou ela já sacou que a tentativa frustrada toca mais o nosso coração que o espetáculo e erra de propósito...

Nenhum comentário:

Postar um comentário