sexta-feira, 29 de maio de 2009

Cara, cade minha mala?


Depois de uma longa viagem de avião, o que mais se quer é finalmente ir para casa e colocar os pés pra cima. Mas como tudo na vida, nada é exatamente como a gente quer. Além daquela demora toda pra sair da aeronave, ainda temos que ir resgatar a nossa querida e saudosa mala. A que guarda as provas da nossa viagem.

Resgatar sim, porque dói quando vemos aqueles brutamontes jogarem nossos pertences naqueles carrinhos como se fossem sacos de cimento. Vamos andando para aquelas esteiras com um certo medo. O que mais queremos é o reencontro. Será que ela sobreviveu àquela suruba, que deve ser um bagageiro de um avião? Será que ela foi esmagada por uma mala maior? Será que rasgaram, quebraram ou roubaram alguma coisa?Pior! Será que ela foi extraviada? Onde foi que eu errei? Oh Deus! Não bastava ser só viada...Tinha que ser extra! (Nossa, trocadilho podre...)

Vamos correndo pra esteira, tentar pegar um carrinho que não emperre e um lugar que tenha uma boa visão para a esteira. Quase consigo ver a felicidade de cada mala ao encontrar seu dono. Algumas vezes escuto de alguns passageiros ao abraçá-las: “Calma, passou, passou,to aqui”. É quase comovente esta relação viajante-mala. Não que o viajante seja uma mala, quer dizer alguns até são, alguns não, muitos, mas o que eu estou querendo dizer é.. Ah! você entendeu...

Está tudo muito bom, está tudo muito bem, até quando você dá uma olhada em volta e percebe que só tem você e mais uns 5 passageiros esperando por suas malas. Será que estou na esteira certa? É, estou.Começa a competição, vocês são os últimos dos moicanos, vamos ver quem vence a prova do líder. Qual será o primeiro finalista a ter sua mala de volta? Tensão. E a sua insiste em não passar pela esteira. Qual era mesmo a cor da fitinha do Senhor do Bonfim que você amarrou? Rosa-choque? Tem certeza? Tenho! Pra poder enxergar logo quando ela aparecer! Mas por que rosa-choque? Eu nem gosto tanto assim de rosa, laranja daria o mesmo efeito. Ai Deus!Pare de pensar besteira!Sua mala pode estar em perigo por trás daquelas franjas misteriosas no final da esteira. O que tem ali atrás? Aquilo ali é quase um universo paralelo. Tenho medo até de ficar perto... Vai que sou sugada também? Seus companheiros de combate estão vencendo. Agora só restam 3 dividindo esse sofrimento. No auge do stress, você pára e percebe que tem uma mala que está girando naquele negócio desde a hora que você chegou. Ela é de couro marrom , meio desgastada nas extremidades e parece cansada. E tonta.Ela gira, gira e ninguém a puxa para o seu carrinho. Um sentimento de ternura toma conta do seu ser e você passa pela tentação de puxá-la para o seu carrinho. Afinal vocês agora compartilham do mesmo sentimento de abandono, de solidão. Não existiria um orfanato de malas onde esta mala poderia ser levada? Você sente raiva de quem rejeitou aquela pobre mala, até que aparece um sujeito saindo do banheiro meio apressado e puxa a mala para si, tirando-a da mira da sua cobiça.

Suas memórias o transportam para o segundo ano primário, quando sua mãe foi a última a buscá-lo no 1º dia de aula. A raiva que sentia agora era a mesma. Por que sua mala o tinha abandonado assim? Não era justo! Não era justo!

Olha para o lado e vê que só sobraram você e um cara. Ele parece tão aflito quanto você. Ele percebe a sua presença e chega mais perto. Você fica meio tensa, mas tenta parecer simpática. Vocês agora conversam, conversam e conversam, não pensam mais na mala. Agora só o que interessa é a viagem que ele fez para A Grécia.

Você dispara:

-Sempre quis ir à Grécia, sabia?

Alguém te cutuca. É um funcionário da empresa aérea.

-Senhores, estas malas pertencem a vocês?

Quando olho para a esteira estão duas malas girando, parecendo brincar de carrossel, será que estavam brincando de esconde-esconde ate agora? Que bom que apareceram! E como se davam bem, que química! Seria um sinal?

As malas passam, cada um pega a sua e você finalmente diz, assim como quem não quer nada:

-Vou tomar um café rapidinho, se quiser vir também...

As malas ainda conversam entre si, devem ter feito amizade...

-Gostaria muito, mas não posso. Minha esposa me espera...Foi bom conversar com você. Tomara que um dia você possa conhecer a Grécia!Até mais!

E assim ele se vai. Uma coisa rosa-choque lhe chama a atenção na mala que ele puxa. É a sua fitinha do Senhor do Bonfim que ficou presa na mala dele!

Você olha para a sua mala e diz:

- Pelo menos uma de nós se deu bem hoje hein!?

A mala apenas sorri descaradamente.

5 comentários:

  1. Eu aprecio mt a arte da subjetividade. O que é verdade? O que é ficção? Vai saber... Afinal, escrever contos e crônicas é também um meio de dizer sem dizer aquilo que deveria ser dito aos quatro cantos. Então continue escrevendo, continue gritando. Com intenção ou não. É sempre bom ler coisas boas!
    bjus
    Iure

    ResponderExcluir
  2. Tenta a fitinha rosa-choque em você da próxima vez =P

    ResponderExcluir
  3. Boaa breno! Como não pensei nisso antes?!!?uiheheiuhei

    ResponderExcluir
  4. Adorei seu blog Moniquinha!
    Passarei por aqui outras vezes!
    Beijo

    ResponderExcluir