terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Cicatrizes

Quando eu tinha uns 18 anos estava passando férias na Irlanda e tomando umas bebidinhas estranhas em um Pub, acabei conhecendo um grupo de masoquistas que se apresentavam no país em uma espécie de circo dos horrores. O barman, que provavelmente já os conhecia há algum tempo, dado a maneira íntima com que se tratavam, pediu uma pequena demonstração de habilidades para agradar a turista, no caso eu. Erin era um cara de uns vinte e poucos anos que se prontificou a realizar o pequeno show. Pediu ao barman uma faca e enfiou, sem exprimir qualquer dor, na bochecha esquerda. Fiquei fascinada com a habilidade de não sentir dor da criatura. Ele me falou que era algo ligado a respiração e a meditação. Quis aprender a técnica e logo virei estrela do grupo com meu incrível número de ser alçada por ganchos enfiados na minha pele acima do busto. Era um masoquismo para a plateia que agoniada esperava até quando eu aguentaria. Cerca de 5 minutos, tempo bastante para que eu fosse aplaudida no final. E essa é a história das minhas 4 cicatrizes, 2 em cada lado do meu colo.

Bom, é mentira, claro. Acabei de inventar. Tenho essas cicatrizes por causa dos cateteres que eu tive que por.

É que eu acho que cicatriz sempre traz uma aventura envolvida, uma aposta que não deu certo, é quase uma prova de que a pessoa viveu intensamente. Sempre fico curiosa ao descobrir uma cicatriz na pele de alguém.

Ter cicatrizes nas pernas mostra o quão moleque você foi, quantas quedas tomou, quantas mordidas de cachorro, picadas de mosquito, tombos de bicicleta e traquinagens você foi capaz de fazer.

Quando é na barriga ou nas costas acho sempre que é coisa de acidente ou operação. Dá um certo constrangimento perguntar. Mas se a pessoa tá ali bem, uma cicatriz de um trauma também pode ser uma grande história.
Outro dia conversando com meu namorado falávamos dessa cicatriz embaixo do queixo que muita gente tem. Porque criança que é criança já abriu o queixo alguma vez na vida.

Eu nunca abri meu queixo e me senti meio mal por isso. Nem de tombo de bicicleta. Eu não tinha sítio, casa de praia, nem família no interior, portanto minha infância foi em apartamento e playground. Entendia mais de lego e Playmobil que de bichos e frutas colhidas do pé. Mas ok também, a quantidade de porradas que eu dei com a canela na mesinha de centro compensam.

Talvez as histórias vividas tenham tanto potencial de histórias fantásticas quanto as fantásticas...

Bom, isso para vocês, meros mortais que não sabem a emoção e dor de estar pendurada por ganchos de ferro para uma plateia de mil pessoas. Ah! Mil não. Cem mil!


Aí esta a foto sem photoshop denunciando as marcas da minha aventura fantástica...

12 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkk...agora imagine a cena: eu arregalando cada vez mais os olhos conforme ia terminando o primeiro parágrafo e pensando "ela fez mesmo isso????MEU DEUS! O_o"
    Realmente, cada cicatriz tem a sua história, uma lembrança...sejam elas de traquinagem ou até mesmo de catapora. Depois desse texto passei a ter orgulho das minhas, afinal é bom ter história pra contar né? Principalmente porque agora posso falar com muita propriedade da minha cicatriz na perna, que foi uma mordida de tubarão...sobrevivi por pouco, imagine! kkkkkkkkk

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    1. hahahahahahahah... Muito bom!Viva nossas cicatrizes!rs!bjooos!

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  2. Minha cicatriz da catapora que eu peguei aos 28 anos continuará na ponta do meu nariz e não há ácido retinóico( não sei se o nome é esse mesmo...rsrs)que mude isso!!! E me contento com ela...rsrs

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    1. hahahhaha. cicatriz de catapora eh traiçoeira, só fica nuns lugares bem evidentes!ngm merece!rsrs.bjoooo

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  3. Você é F.O.D.A.
    Parabéns por fazer todas nós ver amor nas pequenas coisas, as que realmente importam.
    Obrigada Mônica.
    Nathalia (nathy_educa@hotmail.com)

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    1. Poxa Nathalia, que bom atingir alguém dessa maneira tão bacana! Os detalhes da vida estão cheios de histórias para contar! Obrigada pelo comentário!um bjo!

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  4. Eu tinha acreditado nas argolas ! na verdade ainda estou acreditando.. muito shown de bola seus textos, continue fascinando a todos. parabens. e olha que bater a canela na mesa de centro doi demais, porque sempre bate no mesmo lugar.hahah
    bjão pra ti
    (Diego c.f)

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    1. Oi Diego! Estilo forrest gump essa historia de argolas.. ehehe. Valeu pelos elogios!Continue entrando aqui sempre! E A mesinha de centro existe só p sacanear, n tenho duvida!rsrsrs.bjao

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  5. Oi, querida. (Ainda não nos conhecemos pessoalmente, mas é como se fosse. Então vou chamá-la de querida, rs). Olha, você tocou num tema que é caro (e pode custar caro mesmo) a muita gente. A minha, a propósito, pra matar você de inveja, é mesmo no queixo.
    Também fui criado na selva de pedra, mas numas férias em Friburgo, quando Friburgo não tinha ido com as enxurradas, achei que estava sendo perseguido por um cão ensandecido, só ouvi os latidos, ao longe. Caí de um barranco, de cara no paralelepípedo, Resultado: 8 pontos na carteira, digo, no queixo.
    Recentemente, descobri que minha afinidade com Noel Rosa nasceu bem ali.
    Bjs.

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    1. Ai Sergio!senti a dor daqui!rsrs. tb te considero um querido e eh como realmente nos conhecessemos...um bjo grande!

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  6. Engraçado, acho cicatriz de catéter mais emocionante... Porque tem muito mais a ver com vitória do que a outra. E você pode não ter muitas cicatrizes de infância, mas aposto que o playmobil tem. Ou você nunca fez um paraquedas que nunca abria, e jogava o pobre pela janela? E se quiser uma cicatriz no queixo, eu tenho duas...a gente negocia. Bjão!

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    1. du, com certeza a do catater eh mais emocionante. eh que sempre que eu me olhava no espelho e via as minhas cicatrizes simétricas, me vinha essa historia dos masoquistas, deve ter sido algum documentario da discovery channel que ficou na minha cabeca...
      os playmobil tao tudo sem um olho, pintado de caneta por cima, as barbies sem dedos, com certeza eles sofreram muitas tragedias... (apesar de os bonecos preferidos sempre terem tido uma queda amortecida por alguma almofada..rs)
      quanto a cicatriz no queixo, ainda pretendo ter a minha. (quando fizer minha lipo na papada..)bjoo!

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